PALESTRANTE – JANE PERALTA

Segurança do Trabalho: Um acidente de trajeto, de moto, aos 13 anos de idade
DEPOIMENTO DE JANE PERALTA

 

Em 1981 eu era uma adolescente no auge dos meus 13 anos de idade. Vivia o que as outras garotas vivam: hormônios latentes, curiosidade de tudo e uma energia avassaladora. No dia 14.05.1981, em Umuarama-Paraná, parecia que seria mais um dia comum em minha adolescência. Levantei-me, tomei meu café e me vesti para ir trabalhar. Trabalhava com meu pai em sua construtora. Já independente e bastante teimosa me deslocava com minha própria moto, com autorização de meu pai.

Num dia cinzento e nublado saí para mais um dia de trabalho. Para uma menina de treze anos que já tinha 1,74 de altura, eu já me considerava uma adulta em todas as minhas atitudes. Depois de um dia normal, era hora de voltar para casa. Quando pisei na calçada e subi na minha moto eu vi uma família, que morava no prédio ao lado, saindo no mesmo momento em que eu saía. Os cumprimentei e ambos saímos pela mesma direção. Eu me dirigi por uma rua e eles foram por outra. Uns 800 metros depois da minha saída, eu resolvi não parar em uma esquina preferencial, já perto da minha casa. Eu pensei: “Sempre passo por aqui e nunca cruzei com um carro, desta vez eu vou passar direto”.
Não vi nada e não me lembro da cena do acidente. Bati justamente naquele vizinho que eu havia cumprimentado minutos antes. O farol do carro se quebrou e estraçalhou minha perna direita, abaixo do joelho. Caí a alguns metros da moto e o sangue jorrava para todo lado (eu cortei a artéria). Uma amiga que vira meu acidente teve que tomar calmante para dormir à noite. Aquele senhor ficou tão desesperado que não conseguia nem sair do lugar. Um outro que passou no momento parou seu fusca, me colocou dentro do carro e me levou para o hospital. O sangue jorrou pelo seu carro sem dó nem piedade.
Quando cheguei ao hospital eu já estava em estado de choque. Perdi quase todo meu sangue e rapidamente fizeram uma transfusão de sangue para garantir minha vida. Naquela noite foi um desespero para meu pai e minha mãe. Ao passarem pelo local após o acidente eles acharam que eu havia morrido. O médico falou para eles rezarem muito por mim, pois, ele não garantia nem a minha vida. Ao passar o risco de morte ele avisou que eu poderia perder a perna. Ela estava estraçalhada, toda retalhada.
No dia seguinte começaria uma jornada longa de recuperação, muitos curativos e outras cirurgias. Como a extensão do corte era grande, tive que fazer uma nova cirurgia dois meses depois para realizar um enxerto de pele. Retirei a pele das nádegas e foi muito difícil. Ficar deitada de barriga para cima, em cima de uma raspagem forçada nas nádegas foi um grande desafio. Depois que cessou a fase da dor, iniciou a fase da cicatrização que provocava uma coceira terrível. Parecia que a dor era mais suportável do que a coceira. Depois de muita paciência e resistência tudo cicatrizou. As cicatrizes que ganhei nas nádegas valeram o resultado alcançado na perna. Mais uma vez o médico avisou que poderia não dar certo. Na hora da cirurgia eu escutava: “Essa lâmina não está cortando nada”. Abençoado Dr. Carlos Alberto Potier que aguentou minhas crises, meus choros e meu mau humor.
Após alguns meses eu caminhava e havia ganhado um pé caído, 83 pontos na perna e uma vida a ser vivida. Só me restava usar tênis e esperar uma adolescência cheia de desafios.
Em outubro de 1981 começamos a procurar outras possibilidades e encontramos um neurocirurgião que garantiu que não havia mais como meu cérebro passar nenhuma mensagem para o meu pé. Apresentou então uma goteira que poderia deixar meu pé fixado a 90º. Indicou-me a AACD em São Paulo e em fevereiro de 1982 lá estávamos eu e meu pai transitando nas ruas dessa cidade. Lembro-me que a primeira vez que usei essa goteira eu atravessei a rua em direção à antiga rodoviária de São Paulo numa grande alegria. Como uma coisa tão pequena pode fazer tanta diferença em nossa vida. Ali eu percebi que eu poderia viver muitas coisas boas na minha vida. Aliás, eu sempre tive uma visão positiva de tudo isso, não iria me deixar abalar com um pé caído. Afinal sobrou a perna.
Em 1985 eu fiz minha última cirurgia. Como meu pé estava torto eu puxei alguns “nervinhos” para deixá-lo mais reto. Abençoado Dr. Hilário Maldonado de Marília-São Paulo, já falecido.
Às vezes me perguntavam o que tenho de deficiente. Até eu mesma demorei a entender que era uma pessoa com deficiência, já que me faltava uma parte de meu corpo. Embora tenha me acidentado de moto em 1981 só fui usar o caixa especial em bancos financeiros para deficientes em 1993.
Entrei em minha adolescência usando somente um tipo de calçado: tênis. Imaginem uma mocinha usando qualquer tipo de roupa sempre com um tênis no pé. Mesmo com essa limitação sempre saí com meus amigos, namorei muito e entrei para a faculdade de Serviço Social, em Londrina-Pr. Em 1991 me formei como assistente social e fui novamente para São Paulo para desbravar novos mundos. Sempre quis provar que a minha deficiência não me impediria de ser uma excelente profissional.
Foi em fevereiro de 1996 que decidi retornar para Londrina e um desejo começou a entrar em meu coração: encontrar um amor e ter a minha família. Isso tudo aconteceu depois que eu reencontrei minha fé em Deus. Comecei então uma jornada difícil que exigiria muita paciência. Somente encontramos o verdadeiro amor após muita lapidação. É como encontrar um diamante muito valioso. Por três longos anos eu orei, jejuei e esperei por esse grande amor, enquanto fazia meu mestrado em educação. A essa altura eu já estava dando aula na Universidade Estadual de Londrina e queria muito ter um esposo.  Até que um dia isso aconteceu, em fevereiro de 1999.
Eu havia saído da igreja que frequentava e estava com um grupo de amigos. Quando de repente olhei ao lado e vi um rapaz que estava sentado em uma mesa e que conversava com um amigo meu. Logo notei que havia acontecido algo muito ruim com ele. Ele não tinha os dois braços e estava com o coto enfaixado. Só podia ser um acidente. Muito curiosa eu não tive dúvidas. Levantei-me da minha mesa e fui até lá. Já cheguei me apresentando e perguntando o que havia acontecido e ele explicou que havia sofrido um choque elétrico de 13.800 volts há aproximadamente um ano. Eu fiquei chocada e muito comovida com sua história e claro já fui logo convidando ele para ir para minha igreja. Trocamos nossos telefones e 15 dias depois marcamos um encontro: comer pizza. Eu já sabia que teria que lhe servir na pizzaria, mas eu não via nenhum problema nisso. Aliás, eu não imaginava que ele se tornaria o grande amor da minha vida. Foi assim que conheci esse homem maravilhoso, Flávio Peralta.

Depois desse primeiro encontro outros encontros vieram e fomos nos tornando amigos. Um dia, assistindo um filme no cinema algo aconteceu e trocamos nosso primeiro beijo. Eu senti algo diferente e um sentimento de amor foi se apossando de mim. Namoramos, noivamos e casamos em setembro de 2001. Foi um grande desafio nossa união. Eu sabia que minhas mãos seriam emprestadas para ele. Seria eu que serviria sua comida, daria seu banho, trocaria sua roupa, enfim, faria tudo para ele. No inicio foi muito difícil. Eu tinha três empregos (dava aula em duas faculdades e era assistente social na Prefeitura de Londrina) e Flavio era aposentado com um salário mínimo. Os primeiros anos foram muito desafiadores para nós dois e para as duas famílias. Mas, aos poucos fomos nos encaixando e nosso amor se amoldando à nossa nova realidade. Ver meu marido em casa sem fazer nada não era algo que me agradava. Foi então que lhe apresentei o mundo da internet. Algo que ele nunca havia visto na vida. Sem ele saber anunciei num jornal da cidade que precisávamos de um professor de web para ensinar um deficiente. Foi somente depois que o Flávio soube do que eu fizera e começou as aulas. Nascia, então, em 2001, o site www.amputadosvencedores.com.br

Em novembro de 2002 meu útero estava doente e eu teria que tomar uma decisão ainda mais desafiadora: tornar-me mãe. Em 04 de agosto de 2003 nascia Vinicius Assunção Franco Peralta. Quando chegamos em casa com aquele bebê que dependia de nós foi aí que percebi que mais uma pessoa dependeria de mim. Parecia que tudo estava indo bem quando aos 4 meses eu comecei a sentir dores nos punhos. Aquilo foi crescendo e acabei imobilizada sem conseguir nem mesmo me dar banho, quem dera cuidar do Flávio e do bebê. Foram momentos muito difíceis para mim, pois, sempre fui muito independente e autônoma. Mas, após 10 meses de muita fisioterapia e remédios eu consegui me curar.
Eu continuava trabalhando muito ainda até que em junho de 2006 um telefonema mudou nossa vida. Amilton Antunes, técnico de segurança de uma multinacional, viu o site do Flávio e pediu para que ele fosse até Curitiba-Pr para fazer uma palestra narrando seu acidente de trabalho. Depois de muitas negativas Flávio concordou em ir e à partir disso, muito coisa mudou. Passamos juntos a viajar pelo Brasil contando nossa experiência e falando sobre seu acidente.  Foram mais de 320 palestras. Além disso, nossa história está narrada no livro Amputados Vencedores – Porque a Vida Continua, lançado em Abril de 2010.
Após 30 anos de acidente eu me considero muito feliz. Tenho uma profissão, encontrei o amor da minha vida (afinal orei 3 anos por ele, tive que esperar ele sofrer o acidente, se recuperar para depois nos encontrarmos. Isso porque morávamos na mesma rua e nunca havíamos nos encontrado) e experimentei o poder da maternidade. Diante de tudo isso, só posso dizer que dei a VOLTA POR CIMA.

Foto da Família Peralta

Apresentação de Jane Peralta falando sobre seu acidente de trajeto com uso de moto

Apresentação de Jane Peralta falando sobre seu acidente de trajeto com uso de moto

Palestra “Memórias de um Acidente de Trabalho de Trajeto aos 13 anos”

Jane Peralta é assistente social, mestre em educação, diretora da empresa Amputados Vencedores Palestras e Treinamentos Ltda e sofreu um acidente de trabalho de trajeto em 1981. No dia 14 de maio, com 13 anos de idade trabalhava com seu pai em uma construtora e pilotava sua própria moto. Ao finalizar mais um dia de trabalho, às 18:00 subiu em sua moto para retornar à sua casa. Mas, sua vida nunca mais foi a mesma, pois, cruzou a preferencial e colidiu em um automóvel. Seu acidente foi gravíssimo e deixou seqüelas para o resto de sua vida. Essa é a história que narra em sua palestra, com o título “Memórias de um Acidente de Trajeto aos 13 anos”.

Palestra “Os Desafios da Inserção da Pessoa com Deficiência no Processo Produtivo”

Nessa palestra Jane Peralta apresenta os desafios da inserção de uma pessoa com deficiência no mercado de trabalho à partir de suas experiências pessoais. Aos 13 anos sofreu um acidente de trabalho de trajeto e se tornou uma pessoa com deficiência. Nessa palestra relata a história de seu acidente de  trajeto e explana sobre os aspectos teóricos da deficiência e o processo produtivo, explanando sobre: a História da deficiência, definição, formas e índices, legislação existente, princípios da Inclusão Social e Inserção no Processo Produtivo, formação profissional da pessoa com deficiência, onde encontrar e como recrutar pessoas com deficiência, acolhimento por parte da empresa, preparação continuada da empresa.

Palestra “Afetividade e Relações Conjugais”

Há mais de 10 anos Jane Peralta realizou diversos atendimentos à mulheres que vivenciavam situação de violência conjugal, como assistente social. Em diversos momentos ministrou palestras direcionadas à reflexão sobre a afetividade e relação conjugal, visando compreender esse fenômeno que destrói vidas femininas e masculinas.

Co-participante na Palestra “Aprendendo a Viver sem as Mãos” de Flávio Peralta

Jane Peralta participou de diversas palestras de Flávio Peralta como apresentadora e co-participante. Seu marido já realizou mais de 320 palestras pelo Brasil narrando seu acidente de trabalho ocorrido em 1997, quando um choque elétrico ceifou seus dois braços. Em 1999 eles se conheceram e construíram um vida juntos. São pais de Vinicius com 7 anos e mentores do site www.amputadosvencedores.com.br, da cartilha “Vamos Praticar Segurança no Trabalho” e do livro Amputados Vencedores – Porque a Vida Continua, lançado em abril de 2010 e com a primeira edição quase esgotada. Em outubro o livro foi divulgado no Programa do Faustão, da TV Globo, e está sendo veiculado em diversos países

 

Empresas onde já ministrou suas palestras: Air Liquide do Brasil, Consórcio RNEST – CONEST Recife, Construtora A. Yoshii, Libra Terminal e AES Eletropaulo

Fotos de Palestras Ministradas

Fotos de Diversas Apresentações:

JANE PERALTA PALESTRANTE

 

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